quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ANCESTRALIDADE

Olhe-se no espelho por alguns instantes: a cor da sua pele, seus olhos e seu cabelo; a espessura dos lábios, o formato do nariz, suas rugas de expressão: quanto disso é de seu pai e de sua mãe?
Goste você disso ou não, tudo o que você é fisicamente é herança direta deles - e de todos os que vieram antes.
E suas ideias e conceitos? Mesmo que inconscientemente, tudo em que você acredita veio de seus antepassados. Os valores que influenciaram seu dia-a-dia na infância refletem-se no que você crê hoje - seja por conscientemente concordar com esses valores, ou por absorvê-los sem sequer se dar conta, ou mesmo quando você rejeita esses valores para seguir seu próprio caminho. De uma forma ou de outra, o que você pensa descende daquilo que o mundo à sua volta pensava em seus anos formativos.
Com suas crenças ocorre o mesmo: por aceitação ou discordância, a forma atual de sua espiritualidade é resultado direto do que lhe foi transmitido por seus ancestrais: pais, avós, vizinhos, instrutores, colegas e todos os que cruzaram seu caminho até hoje.
Afinal, nem só de sangue é feita a sua ancestralidade: especialmente nos assuntos da alma, costumamos ter muitos outros agentes no contínuo processo de formação de nosso espírito: amigos que nos ensinam informalmente, autores dos livros e pensamentos que nos inspiram, instrutores que nos apresentam novos conceitos, professores que, através de seus estudos e pesquisas, instigam nossas mentes e tocam nossas almas.
E seu local de nascimento? Você pode nem mais viver nele, pode até ter nascido ali por acaso: mas o espírito do local onde você nasceu estará para sempre presente em sua vida - a começar por sua certidão de nascimento e documento de identidade. A cada crediário, a cada novo emprego ou novo contrato, o espírito do local onde você nasceu se faz lembrar, para que você jamais esqueça de quem você é. Da mesma forma que, a cada olhada no espelho, a sua herança genética lhe lembra de todos os que viveram antes e que hoje vivem através de você.

Como você tem tratado seus Ancestrais?



A pergunta nada tem a ver com “gostar”, nem mesmo com “aprender a gostar” de seus ancestrais: trata-se, isso sim, de gostar de si mesmo. De conhecer a si mesmo. E conhecer a si mesmo é conhecer suas origens - físicas, mentais e espirituais. Não importa se você ama ou não seus pais ainda vivos, se um ou ambos já faleceram, se você mal os conheceu ou mesmo se foi adotado na infância sem jamais ter feito contato com seus genitores biológicos.
O fato é que, gostando ou não, em qualquer que tenham sido as circunstâncias, um dia o evento mágico do encontro de um espermatozoide e um óvulo se encontraram - com ou sem amor entre eles - e essa mulher, salvo raras exceções, carregou-lhe no ventre por meses - com ou sem amor entre vocês.
E nutrindo você amor por eles ou não, o fato é que a Vida encheu-se de amor por você nesse longo e mágico processo que culmina no dia de hoje nessa alma única e especial que, através de seus olhos, recebe estas palavras.
Ancestralidade é coisa séria: todos nós temos nossas linhagens (física, mental e espiritual) - ainda que nem todos as valorizem. Fazer as pazes com quem somos é de fato o primeiro passo para sermos melhores a cada dia.
Reserve algum tempo para conhecer sua Ancestralidade. Conhecer de fato, não apenas agrupar nomes e datas numa folha de papel. Quem foram as pessoas por trás dos nomes? Onde viveram? De onde vieram? O que faziam? No que acreditavam e com o que sonhavam?
Dê uma biografia aos nomes, dê significado às datas e locais: todos eles são capítulos na sua aventura de vir-a-ser.
Isso não significa forçar-se a gostar de seus ancestrais, longe disso: afinal, todos nós temos ao menos um ancestral detestável e impossível de gostar. Mas é preciso reconhecer a importância dessa(s) figura(s) em nossa história pessoal - bêbados, marginais, contraventores, covardes, tiranos, pouco importa: sem eles, não estaríamos aqui. Isso é honrar.



Árvore Espiritual


Da mesma forma que é possível desenvolver uma árvore genealógica de sua família, é possível organizar uma ‘genealogia’ de ideias e conceitos. Independentemente de ter ou não uma religião, lembre-se daqueles que, pessoalmente ou através das páginas de livros, provocaram sua mente e sua alma. Lembre-se dos autores que, em suas obras, lhe apresentaram ideias novas, ou que disseram exatamente o que você pensava, ou mesmo que contrariaram suas crenças mais íntimas a ponto de levá-lo, através da discordância, a formular seus próprios conceitos pessoais.
Assim como com sua ancestralidade familiar, você pode gostar deles ou não; mas todos - todos! - esses instrutores estão inseridos para sempre em sua vida e fazem de você quem você é.
Por fim, pense em sua espiritualidade - reflita sobre aqueles que, de uma forma ou de outra, moldaram aquilo em que você acredita: até mesmo se você for ateu, alguém em sua família ou círculo pessoal, um instrutor direto ou mesmo um autor com o qual tenha concordado levou-o a crer no que crê, ou a crer que o melhor é não crer.

E se você segue alguma espiritualidade - organizada ou não, grupal ou individual, hierárquica ou não -, lembre-se agora daqueles que, pessoalmente ou por sua obra, lhe apresentaram os conceitos e fundamentos. Mesmo que você não seja “batizado”, “convertido” ou “iniciado”, esses indivíduos tocaram sua alma de algum modo e hoje são sua ancestralidade espiritual. Eles abriram o caminho que você hoje trilha.
Seja qual for a sua fé, pense agora nos homens e mulheres santos de sua senda, em seus ‘espíritos elevados’ que nos servem de exemplo; nas grandes forças que, por sua visão, moldam o mundo e nossas vidas: todos eles - do ser mais poderoso ao seu instrutor mais imediato - todos eles são seus ancestrais de alma, goste ou não disso.
Negligenciar a Ancestralidade de Alma é tão nocivo quanto negligenciar sua linhagem de sangue. Não se trata de estabelecer um “pedigree” que faça de você melhor ou pior do que os demais, mas sim de ter claro na mente e na alma quem é você e de onde vem - de forma tão clara como quando, ao olhar no espelho, sua herança biológica se mostra através dos traços de seus pais.
Familiares, escritores, instrutores, desafiadores, espíritos pioneiros: TODOS são seus ancestrais. São eles os principais responsáveis por tudo o que você é: de corpo, mente e espírito, gostando ou não.
Cuide de sua herança ancestral: no fundo, ela é a única coisa que você tem. É o mais valoroso bem que você pode deixar; pois pelo sangue, pelas ideias ou pelo contato de alma para alma, também você é um ancestral - para seus filhos, familiares, amigos, alunos e todos aqueles com quem você convive - de alma para alma.

FONTE:

http://bemzen.uol.com.br/noticias/ver/2010/11/18/1966-quem-voce-e

Um comentário:

  1. Perfeito! Devemos honrar nossos ancestrais! Isso é muito importante para nós indígena...

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