Exú dos Rios - (Nesbiros) - companheiro de Veludo, domina as margens dos rios e é confundido com um Caboclo de Penas, porém, usa vestimentas de penas negras e apresentando também, chifre. Comanda a Linha Mista da Quimbanda.
Filho de um explorador com uma nativa, cresceu e viveu junto com a tribo. Aprendendo toda cultura, ritos e crendices. Grande pescador, trabalhador braçal e guerreiro foi capturado e vendido para mercadores que o transportavam em navios negreiros para todo o mundo. Em um país tropical de densa floresta, foi trabalhador em grandes fazendas, mineiro e no garimpo trabalhou pela ultima vez.
Nunca teve envolvimento algum com pessoas, por vezes era doado a outros senhores, por dizerem que era mudo. Envolveu-se em um agrave acidente que o deixou moco e assim foi dispensado das suas atividades de trabalho, moradia e a floresta foi sua morada, tendo como companhia, a mesma solidão.
Vagando em busca de um bom lugar para ali ser sua morada, estabeleceu-se em um vale, onde os campos eram mais abertos, margeados por um largo rio. Vida natural abundante, vivia do plantio, caça e pesca. Na margem do rio, foi atacado por uma serpente, que dias mais tarde, vitimou seu braço esquerdo, invalidando completamente aquele membro. Debilitado, passou a acostumar-se com mais esta dificuldade e assim corria a vida. Numa noite de lua grande e clara, foi arrancado de seu sono, aos sons de tambores que furiosamente rasgavam o silêncio. A espreita pode observar um ritual que acontecia, quando de repente, foi agarrado e arrastado por dois homens que o levaram até o local. Posto ao centro da roda, um grande homem, transvestido com capa, chapéu, um grande cocar de penas pretas e verdes, postou-se a sua frente gargalhando e cuspindo em seu rosto. Envolto pelo som, cheiro e palmas, sentia a cabeça pesar, mas percebeu o momento que a lâmina de uma faca rasgou sua garganta. A profunda dor, o fez aos poucos ir perdendo os sentidos, mas podia sentir pessoas, coisas e seres, sugando seu sangue, desfaleceu.
Tontura, um ardume nas pernas, e um cheiro horrível o fez despertar, aos pouco recobrando seus sentidos, percebeu a margem daquele seu grande rio, estava com as pernas e braços amarrados em um tronco, em meio suas pernas, grandes recipientes com comidas, bebidas, fumo e uma porção de animais mortos, decapitados, desfigurados. Sentado em um grande pano vermelho, estava com um grande corte no pescoço. Tinha pregos fincados pelo corpo e um buraco aberto no alto de sua cabeça. Sem forças, sem nada. Aos poucos, animais se aproximavam, aves de rapina pousavam de hora em hora, alimentava-se dos animais a sua volta e partiam. Sua hora chegou e no leito do rio, foi aos poucos sendo devorado. Sentiu perder os olhos, dedos, lábios até que sem resistir mais morreu.
Recobrando sua consciência momentos mais tarde, percebeu, embora que confuso, seus restos mortais, amarrado em uma árvore com velas e oferendas a sua volta, ainda presenciou alguns outros animais, abocanharem seus membros e adentrarem a floresta. Sem precisar tempo, horas, dias, semanas, ali ficou, sem ação, sem nada.
Percebia sua situação embora não entendesse, até que em mais uma noite de grande lua, familiarizou-se com os tambores novamente postos a romper o silêncio. Observou talvez, centenas de pessoas que um compasso ritmado, palmavam e celebravam algo. Reconheceu dois dos capangas que o arrastaram. Ali aguardava e curiosamente acompanhava tudo que se passava. Quando novamente uma pessoa que aos gritos de horror, ao centro da roda era posta a frente com aquele assombroso e assustador homem. Observara a dança, as palmas e bebericações, quando sentiu que alguém se aproximara, o ódio tomou o seu peito e partiu em direção aquela celebração desconhecida. Ao chegar, percebeu que não era visto e assim entre as pessoas, assistia espantado tudo que acontecia . Tomado de raiva, invade o centro da roda, sua aparência e cheiro, pôde ser “notada” por algumas pessoas que horrorizadas, gritavam e se afastavam da roda, o pânico começou a tomar conta de todos, ao avistar um dos capangas, pulou em seu pescoço, segurando-o com força, a intenção era arrancar-lhe a cabeça, mas percebera que o homem entrara em transe e tudo o que pensava e ou fazia, sua nova ferramenta o mesmo imitava. Pronto, entendeu o que acontecia e tomado de fúria, vingou-se do primeiro. Correu em direção ao segundo capanga... pessoas que evidentemente nada sabiam ou percebiam, com desespero observavam aquele trabalhador que horas antes estava entre eles, agora estava possuído... com a mesma faca que lhe cortaram a garganta, manipulou o capanga a pegá-la e mecanicamente afundava a lâmina até o cabo... Os “convidados” correram... poucos permaneceram, tentando acudir o ferido e outros parar o indivíduo. Frente a frente com o responsável por tudo aquilo, que, também mostrava-se assustado, sem pensar, aplicou um golpe em seu peito... ajoelhou com a faca enterrada no peito e assim ficou...e morreu.
Observando o desencarne, notou que na mesma proporção que aquele espírito se despregava da carne, algo diferente se formava atrás do corpo ajoelhado e em gigantescas proporções, uma criatura estava ali. De aparência dantesca, potencializava tudo que fosse pavoroso. Grandes garras, rabo, asas e grandes músculos... olhos vermelhos, pés de animal, gargalhou pesadamente... nesta hora um grande trovão rompeu o céu... um vendaval, varria tudo que ali estava e as poucas pessoas que ainda sobrara, corriam desesperadamente dali... o homem, perplexo, solta a garganta daquele súdito que cai morto ao chão, frente a frente com aquele ser gigante, percebe que centenas e talvez milhares de outros seres dele se aproximava. Alguns como ele, em estado lastimável, outros, com formas diferentes, pôde observar que a aparência de alguns, assemelhava-se hora com esqueletos, ora com animais...Cercado, podia sentir o ódio generalizado e sentia todas as vibrações. Sim, estava prestes a sofrer mais uma vez, um ataque e provável morte, só que desta vez no plano espiritual, pensou ele.
Rouca, grossa, uma voz sai do ser que está a sua frente:
- Como ousa, destruir o meu melhor manipule? Como ousa acabar com a minha gira? Como ousa afastar meus súditos encarnados e por em xeque o meu comando? Pagará caro... sofrerá eternamente... Com um grande cajado levantou o braço, convidando todos os seus empregados a emanarem em direção ao homem, forças das trevas... A dor, entrou em sua alma... ouvia gritos, sentia novamente cada acontecimento de dor que passou em vida... via uma mulher ser tomada as forças por um homem de outras terras, via a mulher perambular sozinha com uma imensa barriga, via seu abandono, crescendo entre animais e a tribo... revivera tudo e assim ia definhando... sentia-se encolher... caiu de joelhos e levando suas mãos ao chão, pediu ajuda... pediu que, se existisse alguma força tão grande como aquela, que era capaz de acabar com tudo, deveria existir alguma contrária...
Envolto em luz negra, quase aos pés da criatura, sentiu amenizar aquela força que parecia o esmagar... diminuindo até sumir... Todos se entreolharam... algo aconteceu... a criatura com os olhos arregalados deixou escapar um desapontado “não pode ser”... neste momento, uma gargalhada ecoou na noite e um novo ser apareceu ao centro, ao lado do pobre homem. Era imensamente grande, com grandes músculos e capa. Portava uma grande espada embaiada e braceletes com lâminas nas pontas. Aparência de um homem com grande cicatriz que atravessava em um dos olhos até o meio da face. Fraco, apenas pôde apoiar-se sobre os joelhos e inclinar-se ao guerreiro...Este em pé, frente com a criatura, disse:
- O que está acontecendo?
- Vou acabar com este maltrapilho que destruiu tudo que conquistei – esbravejou a criatura..
- E tu? Não fizeras nada com ele? Ora desertor, renegou o reino do bem para viver de oferendas e perturbações a encarnados e seres perdidos? E levantando as mãos num movimento circular com os braços, fez todo aquele exército se esfarelar como pó. Voltando a criatura, empunhou sua espada que brilhava como a lua e golpeou, fazendo uma fenda em seu corpo, onde por ali, vazava todo o mal e essência trevosa que habitava aquele ser. Assim foi minguando, até cair como um saco murcho ao chão.
Voltou-se ao homem, que ao chão acompanhava todo o acontecimento e disse:
- Vim buscá-lo! Vim convidá-lo...se quiseres, pode me acompanhar, será um soldado meu e caminharemos na linha do bem. Livraremos as pessoas das trevas e vingaremos sempre, a controversa força que o mal fez a ti.
- Aceito... só quero parar de sofrer... só quero voltar a ser trabalhador...seja qual for. Sinto-me bem com sua presença e sei que estás longe de ser igual aquela criatura. Quem é vc, qual o seu nome?
- Me chame de Exu Veludo.
E apanhando o homem no colo, sumiu para iniciar os tratamentos necessários.
Foi dado ao homem, o domínio dos rios, das matas e hoje trabalha nos caminhos e trilhas onde as forças trevosas possam penetrar. Membro da falange de Sagathana, o evocam como Exú dos Rios (Nesbiro) e sua magia e força, pode vir e ser do animal, vegetal, mineral, que quiser utilizar.
Laroiê Exú dos Rios !!!
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