segunda-feira, 10 de julho de 2017

MANUEL CONGO E MARIANNA CRIOULA

Estávamos no Brasil Império e, nas cercanias do Rio de Janeiro, subindo a Serra do Mar em direção ao Vale do Paraíba, entre São Paulo e Minas Gerais, haviam prósperos municípios que impulsionavam a economia brasileira, que se baseava nas plantações de café. Há 171 anos atrás, as cidades de Vassouras, Paraíba do Sul e Valença eram prósperas e destinavam ao Município da Corte (Rio de Janeiro), sua produção que era exportada para a Europa. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias da Vila de Vassouras.
Justamente em Paty do Alferes o capitão-mor Manuel Francisco Xavier era um rico proprietário de fazendas de café e açúcar. Para desenvolver a atividade, investira em um grande número de escravos, em torno de 500, cuja a grande maioria homens, que impulsionavam a produção. Casado com Francisca Elisa Xavier, agraciada com o título de Baronesa de Soledade após sua morte, era irascível e temperamental. Vivia à turras com seus vizinhos e se meteu em diversas disputas políticas e acabou por vetar um projeto de expansão para a construção de estrada entre a Corte e as Minas Gerais por passar por suas terras. Os escravos eram uma força de trabalho comparável às máquinas agrícolas de hoje em dia e o grande número deles demonstra a capacidade produtiva de suas fazendas.
Para os proprietários, escravos eram força de trabalho e um pesado investimento que deveria dar o máximo retorno através de uma alta produtividade por cada réis investido e por cada grama de comida fornecida. Entretanto, se entramos na senzala, vemos que estes seres não se consideravam assim: se consideravam gente com aspirações e sentimentos, que odiavam e amavam como qualquer outro ser humano. Apesar do pouco tempo de ócio, riam e se divertiam, e amavam.
Amor de escravo por escrava. Ele, trabalhando nas roças do raiar do dia até à noite, vigiado pelos feitores que não permitiam um segundo de descanso. Era propriedade do senhor, dono das terras e das plantações que lhe alimentava, vestia, abrigava e permitia viver. Ela, trabalhando na casa grande, servindo aos senhores e seus filhos, fazendo-lhes as vontades e caprichos – inclusive sexuais – de nada reclamava, pois era sua propriedade e eram eles que lhe alimentava, vestia, abrigava e permitia viver. Quando se encontravam escondidos, pois não lhes eram permitido sentimentos, se sentiam gente e um não questionavam um ao outro sobre as atividades diárias pois eram propriedade e não tinham direitos.
O ato sexual entre escravos era determinado pelos senhores, que tinham boas matrizes masculinas e femininas que lhes daria a superviniência ativa de outros escravos saudáveis e genéticamente selecionados sem necessidade de desembolso adicional aumentando sua lucratividade. Não é recomendável afetividade entre os genitores e as “crias”, pois isto cria vínculos, ameaça a impessoalidade no trabalho e estraga a produtividade.
Mas apesar de todos os cuidados, Camilo Sapateiro, um escravo da fazenda Freguesia, apaixonou-se por uma escrava da fazenda Maravilha. Sorrateiramente Camilo Sapéteiro se esgueirava de uma para a outra fazenda quando foi surpreendido pelo capataz. Incapaz de impedir sua fuga e cumprindo seu dever de evitar tais contatos, o capataz não teve outra escolha a não ser matar Camilo Sapateiro.
A notícia se espalhou entre os escravos. E, por menos que queiram seus proprietários, escravos são gente. Pessoas que amam e que odeiam. Pessoas que pensam e têm capacidade afetiva e de se indignar. E se indignaram. Não tinham este direito mas se indignaram.
Mas não foi só Camilo Sapateiro que se apaixonou. Havia Manuel Congo. Manuel Congo não era um escravo comum. Nascido no Congo, era trabalhador especializado – ferreiro. De poucas palavras mas simpático e inteligente, era um líder entre seus companheiros. E Manuel Congo amava a Marianna Crioula.  E Manuel Congo soube da história. Ela, brasileira, também não era uma trabalhadora qualquer: mucama de Francisca Elisa Xavier, dócil e confiável, era costureira. Mulher voluntariosa e, como Manuel Congo inteligente e sagaz, sonhava no seu íntimo com a liberdade e uma vida comum de gente.
Foi com amor por Marianna Crioula e ódio por seus opressores que Manuel Congo, liderando os escravos da senzala, arrombaram a porta e saíram no meio da noite. Fugiram em estardalhaço, levaram consigo as escravas que viviam na casa grande. E a notícia se espalhou pela circunvizinhança. E mais e mais escravos lançaram-se à aventura da liberdade.
Tão grande afronta não seria permitida. A Guarda Nacional foi acionada pelos senhores das fazendas e se pôs à perseguição aos fugitivos. O coronel Lacerda Vernek, que liderou a recaptura escreveu que os escravos “fizeram uma linha“, e pegaram as armas, “umas de fogo, outras cortantes”, e gritaram: “Atira caboclo, atira diabos”. “Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada.”(…)”Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!“. Entre os seus liderados estava o major Luís Alves Lima e Silva (futuro Duque de Caxias).
Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manuel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manuel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos.

Memorial a Manuel Congo 
Vassouras – RJ 

Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manuel Congo e talvez tenha sido o “vice-rei” da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.












Manuel Francisco Xavier foi castigado pelos seus destemperos com a vizinhança, perdendo vários escravos. Uma perda financeira considerável.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a vila a que estava subordinada a freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Manuel Congo foi condenado à morte por enforcamento “para sempre”, isto  é, não foi sepultado. Marianna Crioula não teve seu pedido atendido e retornou ao cativeiro. Hoje, em Vassouras (RJ), existe um memorial a Manuel Congo.
Fonte: Wikpedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Congo

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